Saudações

Seja bem vindo a esta Casa de Estudos.

Separe este local para refletir sobre as Escrituras Sagradas e orar pelo caminho em que a fé cristã e judaica tomou nos últimos séculos. Ore para que ambos voltem-se para O Messias Yeshua e recuperem a fé da "kát Haderech". A fé dos apóstolos, a fé do primeiro século, a fé ensinada e firmada em Yeshua e na Torá.

Pr. Renato Cesar.  

ICONOGRAFIA DE JESUS UMA ROUPAGEM GRECO-ROMANA DE JESUS

Após a diáspora do ano 135 A.D, Yeshua recebe popularidade muito maior entre a comunidade gentílica do que entre os judeus. O mundo é Romano, de um ambiente gnóstico e helênico e que em 325 recebe o status de religião oficial do Império. 

O grande difusor da figura do então Yesus ou Jesus, foi Roma. Mas o critério de propagação utilizada por ela foi caracterizar Yeshua com toda uma roupagem iconográfica romanizada. Isto resultou na inserção de elementos considerados pagãos pelo judaísmo na fé professada pelo próprio Yeshua e que as profecias que Ele cumprira na abririam espaço para existir.

Esta exposição procura identificar na pessoa do Cristo Romano as iconografias pagãs
lançadas sobre Yeshua e questionar se existe a possibilidade de se ler Yeshua O Messias sem os elementos greco-romanos herdados pela fé cristã paganizada.

A LÍNGUA DO NOVO TESTAMENTO 

Os documentos que registram Yeshua foram inseridos no cânon neotestamentário em grego Koiné, um idioma que reflete o ambiente e a influência do pensamento grego. Os vocábulos fazem muito mais sentido no pensamento helenista e na mitologia grega do que para explicar as esperanças messiânicas e o mundo judaico em que Yeshua nasceu e viveu. 

Apesar dos hebraísmos contidos no Novo Testamento e as analogias destacadas nos evangelhos e outros relatos, os mesmos não foram suficientes para eximir a influência do pensamento grego sobre os registros. Nem mesmo o nome hebraico que O Messias recebeu ‫  ישוע‬(Yeshua) foi inserido no Novo Testamento, contendo apenas seu equivalente grego Ιησούς (Yesous).
Para a entrada dos gentios no movimento religioso apostólicos seria quase que inevitável o uso do grego para interpretar e relatar suas visões messiânicas sobre Yeshua. Mas isto não resulta em elementos relevantes que denunciem uma influência grega sobre a pessoa do Messias. 

ADAPTAÇÃO CULTURAL GRECO-ROMANA POR PARTE DA IGREJA OFICIAL

A igreja Romana, tida como oficial pela opinião do próprio Império, expande ao mundo uma iconografia de Yeshua sem qualquer elemento cultural judeu. Oposto a isto, uma roupagem romanizada é lançada sobre Ele adaptando Yeshua a tornar-se um Yesus Romano. Foi lançado mão de mais elementos pagãos do que se pensa ter. Alguns exemplos são herdados de deuses do pantheon grego, eles podem ser vistos facilmente se comparado a iconografia de Jesus com as de deuses gregos.

DIONÍSIO 

O discurso imagético contido nas figuras greco-romanas são modificados de acordo com o período e a proposta social a ser alcançada. Mas a herança iconográfica é difundida nos emaranhado de manifestações artísticas. 

Entre a diversidade de semelhanças aplicadas nas imagens de Jesus, uma delas é destacada neste artigo pelo uso do próprio Novo Testamento como ponto de partida.

A iconografia romana de Jesus recebeu uma forte influência da figura de Dionísio ou Baco (Nome dado de acordo com a variante grega ou romana). Algumas imagens e discursos são fascinantes a similaridade quando comparados com Jesus:

O ROSTO 

Neste ponto destaca-se iconografias de Baco em que seu rosto parece um ponto comum com a figura típica de Jesus produzida pela Igreja Romana. 

A CRUZ

As profecias hebraicas, em que a compreensão dos seguidores de Yeshua entendiam cumprir-se nele, estão cheias de elementos hebraicos que perdem o sentido quando lidos em grego ou em qualquer outra cultura.

A estratégia de evangelização utilizada pelo cristianismo romano procurava apropriar a fé de elementos pagãos que facilitassem a inserção do discurso proselitista de Yeshua ao mundo greco-romano.

A paixão do Yesous Cristophos deveria ser compreendida pelos romanos com uma roupagem comum aos seus olhos e ouvidos. Logo a morte de Yeshua deveria trazer consigo elementos peculiares ao pantheon grego, para que a mesma fosse compreendida e culturalmente substituir algum culto romano por um agora tido cristão.

A maneira em que Yeshua morre assemelha-se ao mito de Dionísio, mas esta percepção foi ampliada pela iconografia cristã em detalhes impecáveis como a forma de cruz utilizada para a execução.

O Novo testamento utiliza com mais freqüência o termo σταυρός - Staurós para representar o objeto em que Yeshua foi pregado. Mas este termo pode facilmente, e mais apropriadamente ser traduzido como estaca de execução do que a cruz nas formas comissa e imissa. 

O termo staurós é comparado com uma estaca de execução hebraica traduzida na Septuaginta e no Novo Testamento pelo equivalente grego ξυλον - xulon. Na interpretação derash que Paulo faz de um dos textos da Torá ela afirma ser a Cruz o cumprimento de uma profecia de certa forma nela contida:
"Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo- se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro)." Gálatas 3.13

Este é o nome utilizado por Paulo para entender a forma da Staurós (estaca de execução) em que Cristo foi morto.

Mas a iconografia cristã utiliza comumente a imagem da cruz de semelhança evidente com as imagens do culto a Dionisio. Veja as imagens de Dionisio destacadas abaixo:

Novamente nos deparamos com o mesmo discurso imagético em que veste-se uma roupagem pagã na figura de Yeshua numa intenção de apropriar o mundo greco-romano desta fé. 
 
 
O DISCURSO IMAGÉTICO E A LITERATURA NEOTESTAMENTÁRIA
 
É evidente que o ambiente em que Baco é visto resume-se a festas de bebedeiras e promiscuidade que deram origem ao termo “bacanal”. Mas os entornos de algumas pinturas assemelham-se com a proposta do cristianismo em seu discurso imagético apresentado ao mundo grego. 
 
Encontramos o vinho e a taça erguida em que tanto o sangue de Jesus e o sangue de Baco são representados pelo vinho. 
 
Existem relatos neotestamentários similares que dão margem para comparar Yeshua com deuses pagãos. O ambiente de fé, seja ele judeu ou grego, produz uma esfera de elementos religiosos comuns ao mito.
 
Geralmente os heróis são nascidos de virgens, engravidados por deuses e detentores de poderes sobrenaturais. Na mitologia grega isto é comum a mentalidade religiosa, e Yeshua recebe por parte do grego do Novo Testamento a mesma leitura comum aos gregos. 
 
A profecia de que uma jovem daria a luz ao Messias tomou status de virgem engravidada pela Divindade hebraica. Este testemunho resultou na figura do “DEUS HEBREU ENCARNADO”, detentor de poderes miraculosos e força para renascer após a morte. 
 
Muito similar a crença de deuses e semideuses greco-romanos.
 
Em Mateus 27.51-53 encontra-se um testemunho não partilhado por qualquer outro evangelho:
 
“Naquele momento, o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo. A terra
tremeu, e as rochas se partiram. Os sepulcros se abriram, e os corpos de muitos santos
que tinham morrido foram ressuscitados. E, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição
de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos.”
 
Este mesmo formato é visto no mundo grego na Anthestéria - um festival de primavera em honra a Dionísio e Hermes que visava, entre outras razões, aplacar a ira dos mortos que regressavam de suas tumbas e afligia e assombrava as casas.
 
Da mesma forma que Yeshua ao morrer em uma festa de primavera, faz mortos retornarem em suas casas, assim a Anthestéria tem suas crenças similares.
 
As muitas semelhanças entre os discursos gregos e judeus puderam resultar em adaptações culturais propositais na estratégia missiológica da igreja romana. 
 
Assim como Paulo e Barnabé foram compreendidos como deuses gregos (Atos 14), da mesma maneira a igreja entendeu que associações da figura messiânica de Yeshua em uma roupagem grega seriam a estratégia perfeita para os povos aceitarem o Evangelho apesar do testemunho de Atos dos Apóstolos rejeitar este similaridade.
 
A MUTILAÇÃO DA IMAGEM E O RISCO DE SE PERDER A ORIGEM 
 
A fé cristã por muitas vezes, paga o preço que for preciso para incutir suas convicções e dogmas. A igreja romana resultou em uma imagem pagã para Cristo a todo custo. A fé como um todo recebeu status de politeísta, antropopática e imperialista. 
 
A proposta da trindade deu origem a uma leitura politeísta da fé por parte de muitos povos. Para os muçulmanos é difícil compreender um Jesus fora do politeísmo. 
 
Os dogmas de Maria fizeram com que o cristianismo concorresse com os cultos pagãos em que deusas eram cultuadas, tendo também a fé em Jesus uma deusa a ser venerada. 
 
O domingo de Mitra tornou-se o dia de culto cristão, gerando empecilho e concorrência ante a outras festas e cultos pagãos. 
 
Datas de solstícios, como 25 de dezembro; imagens como a cruz de Baco; o sol de Mitra entre outros elementos lapidaram um cristianismo distante da proposta original da Kát Hadérech (da seita do caminho) implantada pelos apóstolos.
 
Atualmente muitos movimentos tradicionais criticam as estratégias de aculturação do evangelho. Por um lado encontram-se um movimento judaico-messiânico trazendo elementos do judaísmo para a fé; do outro lado encontram-se os movimentos neo-pentecostais fazendo uso de ministérios com grupos específicos que colocam outras roupagens no Jesus atual. 
 
Ele pode ser visto paganizado não apenas na iconografia romana, mas também em diversas propostas culturais e sociais da atualidade. Tanto como um Jesus norte americano, negro, branco demais, nazista, alemão, amarelo ou qualquer outra forma que a igreja ou a denominação deseje vesti-lo.
 
Infelizmente a igreja, em suas diversas formas e adequações culturais, não tem ousadia para rever seus elementos pagãos incutidos no exercício da fé e na roupagem lançada sobre Yeshua.
 
O medo da perda de adeptos, o inserir de símbolos outrora rejeitados, a revisão de seus hábitos e tradições, o diálogo com a história e o repensar do Jesus Histórico causaria traumas inimagináveis e uma verdadeira desestrutura de padrões antigos e que diante de uma auto leitura deram certo. 
 
Logo a origem da fé, hoje pouco importa, mas sim a preocupação de que a qualquer custo deve-se mantê-la relevante na sociedade atual, modelando-se às exigências e imposições geradas pelas mudanças naturais da comunidade em que a igreja está inserida. Mesmo que para isto O MEU SALVADOR se pareça com um deus pagão.